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domingo, 16 de agosto de 2009

A chatice nossa de cada dia


Na parada de ônibus por quase uma hora, decidi puxar assunto com alguém para passar o tempo. Mas com quem?
Olhava discretamente ao redor procurando uma alma disponível para um dedo de prosa, mas não achava. Até que o celular tocou.
Que bom alguém para conversar. Abri a bolsa para pegar o telefone, quando percebi que o menino ao lado atendeu.
Droga, não era o meu.
- Oi, mãe. Estou aqui na Berrini ainda. Não, não precisa me esperar para jantar. Vou levar mais de uma hora para chegar. Ir a pé até a Faria Lima e pegar outra condução lá? Boa ideia, vou fugir do engarrafamento e já aproveito para caminhar um pouco. Beijo, até mais.
- Oi, com licença. Tudo bem se eu fosse com você?
- O quê?
- Desculpe, não pude deixar de ouvir a conversa com a sua mãe. Era ela não era?
- Por quê?
- Não, nada. É que ouvi você dizer mãe.
- Hum
- Espera. Quero te fazer uma pergunta
- Fala
- Se importa se eu for caminhando com você até a Faria Lima
- O quê?
- Sabe o que é? Sou do sul, cheguei em São Paulo há dois meses e não conheço esse caminho até a Faria Lima.
- Tudo bem
Saí, meio apressada, tentando acompanhar o passo do rapaz, uns vinte anos mais ou menos.
- Você mora na zona sul?
Após tirar o fone do ouvido, Leonardo, dez passos depois eu já sabia o nome dele, respondeu não.
- Na zona leste?
- Não
- Trabalha na Berrini?
- Também não
- Nossa, se eu tivesse que te entrevistar para uma matéria seria um problema. Você só responde não.
- Isso é uma entrevista?
- Não, é que eu sou jornalista. Foi só um comentário.
- E você?
- Eu o quê?
- O que você faz?
- Sou estudante
E começou a cantarolar a música que ouvia em seu ipode. Entendi que ele não queria conversar. Me esforcei para manter silêncio. Parei meu olhar no livro que carregava.
- Livro sobre guerra?
- Não exatamente
- Estratégia de guerra?
- Quer ver?
- Que interessante, ensina as estratégias de guerra para lidar com chatos.
- Pode ficar
- Mas você já leu?
- Não ainda
- Então não posso ficar
- Não, tudo bem, fica.
- Obrigada
Em casa...
- Ju, olha só que legal. Conheci um menino muito simpático. Ele gostou tanto de mim que me deu...
- Só um puquinho, estou no telefone com o Léo. Ele está me contando que conheceu uma gaúcha hoje. Diz ele que confirma a máxima sobre mulheres bonitas no sul, mas era tão chata que ele se obrigou a lhe dar o livro que estava lendo para ela parar de fazer perguntas.
Dois minutos depois...
- O que você queria me contar mesmo?
- Comprei iogurtes. Quer?