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Sou uma contadora de histórias. E você? Escreve pra mim! vanebueno7@gmail.com

domingo, 27 de setembro de 2009

10 coisas para se fazer com quase 30

1)Assumir que está fazendo aulas de direção pela terceira vez;
2) Dormir com a mãe de vez em quando porque é bom e o tempo de vocês juntas está acabando
3) Assumir que sente falta de sexo
4) Jamais dormir de maquiagem
5) Ir ao cinema sozinha e se sentir bem
6) Aprender a cozinhar de uma vez por todas
7) Dizer não sem culpa
8) Ouvir não sem retrucar
9) Aceitar que algumas amigas simplesmente casaram antes de você. E isso não significa que você não vai casar
10) Escrever o que bem entender

Genésio

Genésio é um cara que apareceu aqui em casa outro dia. O guri falava um gauchês que por alguns minutos até pensei que era dos pampas. Mas é paulista, daqueles que toma chimarrão e abre a porta do carro. Espécie rara e das boas. Iniciamos uma conversa sem fim. Ele tinha vindo para pra falar com a Ju, é fotojornalista. Ju, Juliana Cupini, é a guria com quem divido apartamento tem pouco mais de um ano. Caso é que estávamos em obras nesse dia. O único lugar habitável do apartamento era o pequeno sofá branco da sala. Lá, tive que ficar no meio da conversa dos dois.
Quando a Ju me disse que ele chegaria, me bateu uma vergonha alheia, a casa estava uma bagunça e eu não tinha para onde ir. Enfim, ele chegou e ali ficamos os três, espremidos. A Juliana começou a contar quem ele era e, não sei exatamente onde, ela saiu da conversa. Muitas horas e histórias depois, estávamos lá, dessa vez encantados um com o outro. Percebi isso no exato momento que ele recostou a cabeça no sofá. Notei como são grandes os seus olhos. O Genésio tem os olhos de ressaca da Capitu, de Machado de Assis. Trazem um fluído misterioso e energético, uma força que arrasta para dentro como a força que se retira da praia nos dias de ressaca.
O cabelo cacheado e desgrenhado dá um ar de aventureiro. E o guri é mesmo. Saiu pela América latina de moto, ao total estilo Chê Guevara. Quando eu perguntei se ele ia escrever sobre suas viagens, ele respondeu: Eu não, quem quisesse escrever que viajasse comigo. E essa foi só a primeira de muitas de suas respostas ousadas, que apelidei carinhosamente de pérolas do Genésio. A cada encontro tem uma nova. Adorei o Genésio desde o primeiro dia em que o conheci e agora vai ser assim.

domingo, 13 de setembro de 2009

...E o tesão continuava ali


Mariana acordou excitada. A primeira coisa que fez foi tentar recordar se havia tido um sonho erótico. Não teve. Depois fez as contas para verificar se estava em seu período fértil. Também não. O que diabos estava acontecendo com ela então? Sim, recordou que já tinha 31 anos. Desde que completara 30 tudo de diferente que lhe acontecia era culpa dos hormônios. Isso só podia ser também. Tentou distrair, pensar em outras coisas. Mas o quê? Ficou um tempo deitada na cama matutando o que tinha para fazer. Ah, sim, visitar o afilhado. Mas ficou cansada só de pensar que teria de brincar de cavalinho, ou jogar videogame. Caminhar no parque? Seria uma boa, não fosse pelo fato de estar chovendo aos cântaros na rua. O tempo andava descontrolado como seus hormônios, pensou. O banho lhe ocorreu como uma opção viável. Levantou, tirou a roupa, e teve uma ideia. Banho sim, mas com o vibrador junto. Mariana havia se presenteado com um vibrador em seu último aniversário.Foi uma tentativa de não ceder mais às súplicas do ex-namorado e arrepender-se no dia seguinte. Como ainda não tivera sucesso com o tal brinquedinho, estava decidida a resolver a situação naquele dia.
Depois de 30 minutos no banho e uma câimbra no braço, desistiu. A imaginação não estava ajudando. E o tesão continuava ali. Pegou o celular. Nenhum nome na agenda lhe inspirou uma ligação. Esqueceu por algumas horas...
Como não se livrava do tal desejo, decidiu tentar a internet. Vasculhou os chats e as possibilidades reais de conseguir o que queria. Parou na sala que julgou mais apropriada. Depois de algumas conversas que não levaram a lugar algum, conheceu alguém, que como ela acordara excitado. A conversa seguia como tinha de ser. Mariana espantava-se com sua ousadia. Estava quase aceitando o convite para um encontro real. Não pensava em mais nada, só na possibilidade de saciar seu desejo. Disse sim. Foi nesse momento que a internet caiu.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Praticar mais

Já repararam em quantas vezes ouvimos: - A minha psicóloga me disse para fazer isso. Tá, não exatamente assim porque psicólogos não te dizem para fazer nada. Eles fazem você chegar à conclusão de que deve fazer. Eu cheguei à conclusão, junto com minha psicóloga, claro, de que devo praticar mais.
A frase ‘você deve praticar mais’ surgiu, na verdade, de um editor, lá de São Paulo, que leu meu texto e disse – Você leva jeito, só precisa praticar mais. Mas falávamos, agora voltando à psicóloga, de praticar mais a paquera. Sair mais, beijar mais na boca, por beijar mesmo.
Na minha tentativa de praticar mais, ouvi: - Falei sobre isso com o meu psicólogo hoje pela manhã. Outro pretendente: - Contei para a minha terapeuta sobre você. Pronto, não me sinto mais um ET.
Depois que essa crise quase 30, de identidade, de dinheiro, ou sei lá eu o quê, se instalou, estava me sentindo meio fora de esquadro. Mas percebo que não estou sozinha. Será a crise existencial uma epidemia do século 21?
Não, não creio. Talvez não estejamos praticando as mudanças do novo século como deveríamos. Tá, eu sei que tem coisas que simplesmente não descem. Para mim a queda do diploma, para outros a impossibilidade de fumar embaixo da marquise de um prédio, ou dentro de seu próprio quarto.
Com tantas mudanças, o jeito vai ser praticar o desapego. E o beijo na boca, é claro. Já que temos que passar por isso, que seja com muito beijo na boca.
Por ora, esqueçam os jogadores de futebol, marketeiros e webdesigners, o profissional da vez é o psicólogo.

Tempo de prova

Prestar concurso público sempre me faz pensar que terei mais tempo, caso passe. Mais tempo para escrever crônicas, namorar, me divertir...para o que realmente interessa, resumindo. Talvez esse pensamento seja um ledo engano, vai saber. Só sei que mesmo agora, no momento da prova de seleção, me sobram horas. Será um sinal?
Quando entrei na sala, vi gente de todos os tipos. Minha concepção de mundo me levou a definir alguns estereótipos. Vamos lá:
Aquela menina com casaco do Grêmio deve ter estudado pouco. Provavelmente foi ao jogo do time durante a semana, dormiu tarde e acordou sem voz. Não foi trabalhar porque ficou gripada devido ao frio que fazia no Olímpico aquele dia. Tão pouco conseguiu estudar, pois não foi capaz de sair da cama, tamanha a febre e dor no corpo. Ótimo, uma concorrente a menos. Eu ficaria feliz, não fosse pelo fato da fila do lado estar prestando prova para o cargo de contabilidade, o que não é meu caso.
Outro tipo que me intriga é aquele sujeito lá da do fundo à esquerda. Ele estava cabisbaixo quando cheguei, parecia dormir. Será que ele veio virado da balada? Passou a noite chorando pelo fim de um namoro? Ou estava rezando para algum Santo ajudá-lo com a prova? A camiseta com os dizeres ‘Jesus te ama’ aponta para a alternativa três.
A fiscal de sala é uma dessas alemoas bem alimentadas aqui do Rio Grande, sabe?
Seus cinquenta e poucos anos e a cara de ranzinza indicam que não faz sexo há meses, talvez anos. Será que também é religiosa?
Será que ainda falta muito para eu ir embora?
Eu já podia ir, mas quero levar o caderno com questões. Preciso me inspirar. Será que deveria recordar minha última cena de sexo? Melhor não, caras e bocas não seriam convenientes por aqui.
Pensar em como seria minha vida de assessora de imprensa no Rio de Janeiro, caso passe nesse concurso? Mas a psicóloga disse para viver o presente. No presente minha bunda está dura e o espaço para escrever acabou. É tempo de prova. Tempo de provar para mim mesma que aguento duas horas conversando com minhas vozes internas.
Tive uma ideia.
-Vozes, estão aí?
- Vamos brincar de música?
- Música?
- Sim, eu digo uma palavra, e vocês cantam uma música. Mas tem que ser baixinho para não atrapalhar meus concorrentes. Combinado?
- Começamos agora. Casa, sexo, amor, liberdade, cama....
- Muito rápido?
- Se virem, estão fazendo isso comigo há anos