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Sou uma contadora de histórias. E você? Escreve pra mim! vanebueno7@gmail.com

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

As festas de fim de ano nunca mais foram as mesmas

Como de costume, Mariana aproveitou o seu turno no amigo secreto para dizer algumas palavras. A primeira vez que tomara essa atitude, anos atrás, suava frio. E se eles não gostarem?, pensava ela. A família não tinha o hábito de fazer orações ou agradecimentos no Natal. O que pensariam de uma adolescentes que escreveu algumas palavras de otimismo e gratidão? Não sabia. Dobrou e desdobrou o papel que carregava por diversas vezes. Temia as caras de desaprovação. Primeiro pensou em falar antes da ceia, mas as mãos em direção ao arroz à grega e ao peru eram tantas, que julgou inconveniente pedir um minuto de atenção naquela momento. Até porque seriam ao menos uns cinco. Isso se ela lesse rápido. O que não era seu hábito. Sempre gostou de interpretar os textos. Mas aquela era a primeira vez que elaborara um escrito de Natal. Já havia lido umas 10 vezes para ter certeza de que não entediaria os ouvintes. E foi em frente, meio sem graça no começo, mas confiante após as primeiras reações. Depois daquele ano, sua fala já era esperada. Agora, de tão confiante na aceitação de seus discursos, já os levava, dobrados como uma cartinha, para entregar a cada um dos familiares após a leitura. Nesse Natal ela não imprimiu texto algum. Nem mesmo seu original. Não estava disposta a falar. O ano havia sido difícil, ela estava descrente. Novos núcleos familiares já haviam se formado. Quando chegou perto de sua vez, começou a indecisão. Falar ou não falar? E falou. Porque não consegue ficar muito quieta mesmo.
- Lá vai, disse a si mesma.
- O negócio é o seguinte: Não preparei nada, mas gostaria de dizer algumas palavras. Alguém se opõe?
No fundo ela tinha certeza de que ninguém seria contra, não por achar que eles gostassem de seus comentários, mas porque sabia que ninguém estragaria a paz daquele noite.
- Desejo que cada um seja o que quer ser e faça o que realmente tem vontade. Basta de um Natal de faz-de-conta em que ficamos onde não queríamos estar e dizemos o que não queríamos dizer. Estão todos liberados.
Nesse momento os familiares se olharam espantados. As falas de Mariana sempre geravam certo constrangimento. Cinco minutos se passaram, até que alguém se levantou e pediu a palavra. Disse ele:
- Vocês são minha família, eu amo vocês, mas estou perdidamente apaixonado por uma mulher maravilhosa, que não me sai do pensamento, e eu acabei de ter a certeza de que é ao lado dela que quero estar no Natal dos próximos 20 anos.
O que aconteceu com ele e a tal mulher maravilhosa ainda não é do conhecimento de Mariana, mas as festas de fim de ano nunca mais foram as mesmas!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A paixão foi sem querer

Aniversário de amiga casada tornou-se difícil para mim. Sou uma das únicas que não está planejando o primeiro filho, ou o segundo. Muito menos uma segunda lua-de- mel. Do que deveríamos conversar então? Trabalho? Este tópico virou secundário na vida delas. Algumas os têm, outras abriram mão para seguir o marido em uma promoção para a cidadezinha do interior. Costumava não ligar para isso, mas agora me dói. Onde eu estava enquanto elas conquistavam seus maridos? Ah, sim. Ocupadíssima tentando me tornar cidadã do mundo. E agora onde estou?

Estou no meio de um turbilhão de emoções tentando dar mais ouvidos para as minhas vozes internas do que para as pessoas a minha volta. Tentando ser o mais irresponsável possível para viver o que realmente sinto. Mas será mesmo que isso é possível nesta altura da vida. Será que posso ser egoísta?Já li inúmeras histórias de pessoas que largaram o trabalho para se dedicar ao que gostam. O César, por exemplo, largou o trabalho burocrático em um banco para ser feliz como fotógrafo. Eu não o conheci antes, mas posso garantir que seus olhos brilham quando ele fala sobre fotografia. Outros largaram tudo para viver um grande amor. O meu pai mesmo é um deles. Ele deixou um casamento de 32 anos para se entregar a um novo amor. O João também rompeu um matrimônio de três décadas, mas para assumir a homossexualidade.

Sou a favor disso mesmo. Um brinde aos que conseguem romper com o sensato e fazer o que realmente lhes dá prazer. Dane-se a sociedade. Danem-se os outros. Uma salva de palmas aos que conseguem sair do trabalho no horário certo (sem culpa), que aceitam os filhos de volta, que decidem levar uma gravidez (não planejada) a adiante, que vencem o luto, que amam sem medida, que assumem suas paixões.

Já quis muito me apaixonar. Tinha até uma lista mental dos pré-requisitos que o pretendente deveria ter. Fui apresentada aos amigos dos amigos, arrisquei encontros pela internet, até uma chance para o vizinho apaixonado da adolescência eu dei. Nada funcionou. Vivia por aí desencanada. Afinal, tinha total controle do que eu sentia. Agora, o caos se instalou. A lista de pré-requisitos desapareceu e eu não sei o que fazer. Quer dizer, sei sim. Que me desculpem os envolvidos, mas a paixão foi sem querer.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Mariana é como todas as outras


Mariana apaixonada é um desastre. Tagarela sem cessar e carrega um sorriso irritantemente feliz. Vira adolescente, esquece da vida. Lê 50 vezes o mesmo e-mail. Checa as mensagens mais 50. Mariana apaixonada nega até a morte. Quando está em grupo é a mais quieta de todas. Se falar, vai se entregar. Mariana apaixonada concorda com tudo. Perde o apetite e volta a correr. Compra lingeries novas, pinta as unhas de vermelho, lembra de usar filtro solar e confessa saudade de 5 em 5 minutos. Mariana apaixonada não presta atenção em palestras, tropeça na rua e canta no chuveiro. Chora vendo filme romântico e ouve Elton John. Mariana apaixonada atravessa a rua correndo, mexe sem parar no cabelo e inventa teorias sobre a vida em uma mesa de bar. Mariana apaixonada é engraçada, ousada, insegura... Uma doce idiota. Mariana, apaixonada, é como todas as outras. Mulher.

domingo, 8 de novembro de 2009

A velocidade das coisas

Dois livros em quatro dias e a euforia me tirou o sono. Vivi dias intensos. Foi um misto de ansiedade, pela reação das pessoas, e vaidade, pela coragem de me expor. Escritora estreante tem lá seus medos.
-Será que vão gostar?
- Melhor nem ler novamente para não achar erros. (As vozes internas estavam a mil).
Mas, entre uma insegurança e outra, chego ao final do domingo orgulhosa de mim. No começo não sabia direito o que escrever no autógrafo e, muito menos, como assinar. Vanessa Bueno me pareceu tão formal para um livro de crônicas que muito tem de minha intimidade. E lá parti eu para a minha assinatura habitual: com um beijo da Vá.
Na escola, sempre que perguntavam meu apelido e eu respondia Vá, imediatamente ouvia: Vá aonde?
Achei a resposta: Onde o coração me levar. Nossa, isso parece meio brega. A Leca diria que sim. Agora dei para ser brega. Ou já era e não percebia. Não importa. O que importa mesmo é a decisão, tomada há alguns dias, de seguir a voz do coração.
Foi ela que me disse para recusar o convite para assumir uma assessoria de imprensa. Foi ela que me disse para aceitar o convite para um chope na Paulista. Ah, a Paulista. Caminhei nesta imponente avenida por estes dias. Sinto um inexplicável prazer quando passeio por suas calçadas. Algo como uma liberdade desafiadora. Um convite para desbravar o mundo. E as pessoas que transitam por lá têm muito disso. Seus rostos denunciam a origem de várias partes do Brasil, quiçá do mundo. Parecem em busca de um algo a mais. Os passos apressados denunciam que em São Paulo a velocidade é outra.
Até a velocidade com que o garçom repõe o chope na mesa é outra. Você nem precisa pedir: antes de tomar os últimos dois dedos da bebida que está em seu copo, o camarada do bar chega com um chope novinho em folha para repor. É uma espécie de ‘mimo’, que os paulistas desenvolveram para driblar a concorrência acirrada da cidade. Considerando que sou fã assumida de botecos, concordo plenamente com a atitude.
Os gestos de atenção também me dispertaram para um ‘encantamento’, manifestado a partir de uma conversa (despretensiosa) no avião outro dia. E mais uma vez lá vêm as vozes internas interferirem na paz da minha consciência.
- Escreve para ele.
- Mas...
- Não é você que quer seguir a voz do coração?

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

sábado, 31 de outubro de 2009

Entre o passado e o futuro


Já repararam como nossas mentes insistem em pular para frente ou para trás nossos pensamentos? As danadas nos fazem acreditar que os anos da adolescência é que foram bons, ou que seremos mais felizes em 2015. Neste tempo já teremos emagrecido, comprado um apartamento, casado, talvez já tenhamos o primeiro filho. Mas, e o hoje?

Por quê será que é tão difícil concentrar no hoje e aproveitar o que a vida nos apresenta? Estamos sempre condicionados a algo para sermos felizes. Quando eu me formar, quando eu me casar, quando tiver aumento de salário...Comigo sempre foi assim. Tinha o sonho de me tornar jornalista, de morar em São Paulo, de estudar no exterior...Foi exatamente depois de atingir esses objetivos que me perdi.

Não se ocupando mais do futuro, minha mente buscou refúgio no passado. O problema é que o passado estava cheio de presentes não vividos. O jeito foi aprender a viver no momento atual. Não demorou muito e percebi que o foco estava todo voltado ao trabalho. Tudo bem que amo o jornalismo, mas isto não pode ser tudo. Imagina como foi ficar três meses desempregada? No início o fim do mundo. Não sabia o que fazer para preencher o tempo. Depois ficou bom. Serviu para ampliar o foco.

Decidi passar a minha vida por uma espécie de 5 S’s. Primeiro olhei para o fim de semana. Em tempos passados, metade dele era ocupado por trabalho. Mas, sem trabalho, pareciam tão vazios. O que deveria eu fazer com todas aquelas horas que separavam a sexta-feira da segunda? Cheguei a me tornar amiga da televisão, passava horas zapeando atrás de filmes e programas interessantes. Mas nossa amizade durou pouco. Minha alma pedia mais. Mas o que? Diversão, a alma pedia diversão. Ah, sim. E amor também.

- Há quanto tempo não amamos de verdade? Pergunta uma de minhas vozes internas. Sim, elas se incluem na conversa.

- Sei lá, estava ocupada demais tentando ser uma profissional bem-sucedida.

Na verdade, na tentativa de ‘ser como todo mundo’ e ter um par, saí por aí tentando ‘encaixar’ com alguém. Só que amor não se encaixa. Outro dia ouvi de um amigo: “Não consigo ficar sozinho, estou sempre apostando em alguém.”

- Hum, como assim apostar? Essa que questiona é, de novo, minha voz interna.

- Deve ser algo como aquele trabalho que aceitamos só pelo salário, mas não temos muita empolgação em levantar da cama todos os dias para ir até lá.

- Sendo assim, ele está apostando só para não ficar sozinho?

- Acho que sim.

- Mas assim é trocar um problema pelo outro.

- Tá bom, tenho que concordar com você desta vez.

O jeito é seguir conhecendo pessoas, estabelecendo relações e vínculos afetivos aqui e ali. Algo como quando trocamos de curso na faculdade. Chega um dia em que sentimos prazer em assistir as aulas. O sinal de que precisávamos para justificar nossa escolha e seguir em frente.

- Avisa que você está em busca do sinal amoroso. (voz interna)

- Ai, que mico escrever isso aqui. Fica quieta, me deixa terminar o raciocínio.

- Hum, fazendo pose de auto-suficiente. Pensa que estar sozinha lhe basta.

- Não quero parecer desesperada.

- Vai parecer se não falar...

- OK, você venceu. Hei, amor. Estou aqui viu, só para lembrar. Agora deixa eu ir lá que o fim de semana está começando e preciso me divertir.

domingo, 27 de setembro de 2009

10 coisas para se fazer com quase 30

1)Assumir que está fazendo aulas de direção pela terceira vez;
2) Dormir com a mãe de vez em quando porque é bom e o tempo de vocês juntas está acabando
3) Assumir que sente falta de sexo
4) Jamais dormir de maquiagem
5) Ir ao cinema sozinha e se sentir bem
6) Aprender a cozinhar de uma vez por todas
7) Dizer não sem culpa
8) Ouvir não sem retrucar
9) Aceitar que algumas amigas simplesmente casaram antes de você. E isso não significa que você não vai casar
10) Escrever o que bem entender

Genésio

Genésio é um cara que apareceu aqui em casa outro dia. O guri falava um gauchês que por alguns minutos até pensei que era dos pampas. Mas é paulista, daqueles que toma chimarrão e abre a porta do carro. Espécie rara e das boas. Iniciamos uma conversa sem fim. Ele tinha vindo para pra falar com a Ju, é fotojornalista. Ju, Juliana Cupini, é a guria com quem divido apartamento tem pouco mais de um ano. Caso é que estávamos em obras nesse dia. O único lugar habitável do apartamento era o pequeno sofá branco da sala. Lá, tive que ficar no meio da conversa dos dois.
Quando a Ju me disse que ele chegaria, me bateu uma vergonha alheia, a casa estava uma bagunça e eu não tinha para onde ir. Enfim, ele chegou e ali ficamos os três, espremidos. A Juliana começou a contar quem ele era e, não sei exatamente onde, ela saiu da conversa. Muitas horas e histórias depois, estávamos lá, dessa vez encantados um com o outro. Percebi isso no exato momento que ele recostou a cabeça no sofá. Notei como são grandes os seus olhos. O Genésio tem os olhos de ressaca da Capitu, de Machado de Assis. Trazem um fluído misterioso e energético, uma força que arrasta para dentro como a força que se retira da praia nos dias de ressaca.
O cabelo cacheado e desgrenhado dá um ar de aventureiro. E o guri é mesmo. Saiu pela América latina de moto, ao total estilo Chê Guevara. Quando eu perguntei se ele ia escrever sobre suas viagens, ele respondeu: Eu não, quem quisesse escrever que viajasse comigo. E essa foi só a primeira de muitas de suas respostas ousadas, que apelidei carinhosamente de pérolas do Genésio. A cada encontro tem uma nova. Adorei o Genésio desde o primeiro dia em que o conheci e agora vai ser assim.

domingo, 13 de setembro de 2009

...E o tesão continuava ali


Mariana acordou excitada. A primeira coisa que fez foi tentar recordar se havia tido um sonho erótico. Não teve. Depois fez as contas para verificar se estava em seu período fértil. Também não. O que diabos estava acontecendo com ela então? Sim, recordou que já tinha 31 anos. Desde que completara 30 tudo de diferente que lhe acontecia era culpa dos hormônios. Isso só podia ser também. Tentou distrair, pensar em outras coisas. Mas o quê? Ficou um tempo deitada na cama matutando o que tinha para fazer. Ah, sim, visitar o afilhado. Mas ficou cansada só de pensar que teria de brincar de cavalinho, ou jogar videogame. Caminhar no parque? Seria uma boa, não fosse pelo fato de estar chovendo aos cântaros na rua. O tempo andava descontrolado como seus hormônios, pensou. O banho lhe ocorreu como uma opção viável. Levantou, tirou a roupa, e teve uma ideia. Banho sim, mas com o vibrador junto. Mariana havia se presenteado com um vibrador em seu último aniversário.Foi uma tentativa de não ceder mais às súplicas do ex-namorado e arrepender-se no dia seguinte. Como ainda não tivera sucesso com o tal brinquedinho, estava decidida a resolver a situação naquele dia.
Depois de 30 minutos no banho e uma câimbra no braço, desistiu. A imaginação não estava ajudando. E o tesão continuava ali. Pegou o celular. Nenhum nome na agenda lhe inspirou uma ligação. Esqueceu por algumas horas...
Como não se livrava do tal desejo, decidiu tentar a internet. Vasculhou os chats e as possibilidades reais de conseguir o que queria. Parou na sala que julgou mais apropriada. Depois de algumas conversas que não levaram a lugar algum, conheceu alguém, que como ela acordara excitado. A conversa seguia como tinha de ser. Mariana espantava-se com sua ousadia. Estava quase aceitando o convite para um encontro real. Não pensava em mais nada, só na possibilidade de saciar seu desejo. Disse sim. Foi nesse momento que a internet caiu.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Praticar mais

Já repararam em quantas vezes ouvimos: - A minha psicóloga me disse para fazer isso. Tá, não exatamente assim porque psicólogos não te dizem para fazer nada. Eles fazem você chegar à conclusão de que deve fazer. Eu cheguei à conclusão, junto com minha psicóloga, claro, de que devo praticar mais.
A frase ‘você deve praticar mais’ surgiu, na verdade, de um editor, lá de São Paulo, que leu meu texto e disse – Você leva jeito, só precisa praticar mais. Mas falávamos, agora voltando à psicóloga, de praticar mais a paquera. Sair mais, beijar mais na boca, por beijar mesmo.
Na minha tentativa de praticar mais, ouvi: - Falei sobre isso com o meu psicólogo hoje pela manhã. Outro pretendente: - Contei para a minha terapeuta sobre você. Pronto, não me sinto mais um ET.
Depois que essa crise quase 30, de identidade, de dinheiro, ou sei lá eu o quê, se instalou, estava me sentindo meio fora de esquadro. Mas percebo que não estou sozinha. Será a crise existencial uma epidemia do século 21?
Não, não creio. Talvez não estejamos praticando as mudanças do novo século como deveríamos. Tá, eu sei que tem coisas que simplesmente não descem. Para mim a queda do diploma, para outros a impossibilidade de fumar embaixo da marquise de um prédio, ou dentro de seu próprio quarto.
Com tantas mudanças, o jeito vai ser praticar o desapego. E o beijo na boca, é claro. Já que temos que passar por isso, que seja com muito beijo na boca.
Por ora, esqueçam os jogadores de futebol, marketeiros e webdesigners, o profissional da vez é o psicólogo.

Tempo de prova

Prestar concurso público sempre me faz pensar que terei mais tempo, caso passe. Mais tempo para escrever crônicas, namorar, me divertir...para o que realmente interessa, resumindo. Talvez esse pensamento seja um ledo engano, vai saber. Só sei que mesmo agora, no momento da prova de seleção, me sobram horas. Será um sinal?
Quando entrei na sala, vi gente de todos os tipos. Minha concepção de mundo me levou a definir alguns estereótipos. Vamos lá:
Aquela menina com casaco do Grêmio deve ter estudado pouco. Provavelmente foi ao jogo do time durante a semana, dormiu tarde e acordou sem voz. Não foi trabalhar porque ficou gripada devido ao frio que fazia no Olímpico aquele dia. Tão pouco conseguiu estudar, pois não foi capaz de sair da cama, tamanha a febre e dor no corpo. Ótimo, uma concorrente a menos. Eu ficaria feliz, não fosse pelo fato da fila do lado estar prestando prova para o cargo de contabilidade, o que não é meu caso.
Outro tipo que me intriga é aquele sujeito lá da do fundo à esquerda. Ele estava cabisbaixo quando cheguei, parecia dormir. Será que ele veio virado da balada? Passou a noite chorando pelo fim de um namoro? Ou estava rezando para algum Santo ajudá-lo com a prova? A camiseta com os dizeres ‘Jesus te ama’ aponta para a alternativa três.
A fiscal de sala é uma dessas alemoas bem alimentadas aqui do Rio Grande, sabe?
Seus cinquenta e poucos anos e a cara de ranzinza indicam que não faz sexo há meses, talvez anos. Será que também é religiosa?
Será que ainda falta muito para eu ir embora?
Eu já podia ir, mas quero levar o caderno com questões. Preciso me inspirar. Será que deveria recordar minha última cena de sexo? Melhor não, caras e bocas não seriam convenientes por aqui.
Pensar em como seria minha vida de assessora de imprensa no Rio de Janeiro, caso passe nesse concurso? Mas a psicóloga disse para viver o presente. No presente minha bunda está dura e o espaço para escrever acabou. É tempo de prova. Tempo de provar para mim mesma que aguento duas horas conversando com minhas vozes internas.
Tive uma ideia.
-Vozes, estão aí?
- Vamos brincar de música?
- Música?
- Sim, eu digo uma palavra, e vocês cantam uma música. Mas tem que ser baixinho para não atrapalhar meus concorrentes. Combinado?
- Começamos agora. Casa, sexo, amor, liberdade, cama....
- Muito rápido?
- Se virem, estão fazendo isso comigo há anos

domingo, 16 de agosto de 2009

A chatice nossa de cada dia


Na parada de ônibus por quase uma hora, decidi puxar assunto com alguém para passar o tempo. Mas com quem?
Olhava discretamente ao redor procurando uma alma disponível para um dedo de prosa, mas não achava. Até que o celular tocou.
Que bom alguém para conversar. Abri a bolsa para pegar o telefone, quando percebi que o menino ao lado atendeu.
Droga, não era o meu.
- Oi, mãe. Estou aqui na Berrini ainda. Não, não precisa me esperar para jantar. Vou levar mais de uma hora para chegar. Ir a pé até a Faria Lima e pegar outra condução lá? Boa ideia, vou fugir do engarrafamento e já aproveito para caminhar um pouco. Beijo, até mais.
- Oi, com licença. Tudo bem se eu fosse com você?
- O quê?
- Desculpe, não pude deixar de ouvir a conversa com a sua mãe. Era ela não era?
- Por quê?
- Não, nada. É que ouvi você dizer mãe.
- Hum
- Espera. Quero te fazer uma pergunta
- Fala
- Se importa se eu for caminhando com você até a Faria Lima
- O quê?
- Sabe o que é? Sou do sul, cheguei em São Paulo há dois meses e não conheço esse caminho até a Faria Lima.
- Tudo bem
Saí, meio apressada, tentando acompanhar o passo do rapaz, uns vinte anos mais ou menos.
- Você mora na zona sul?
Após tirar o fone do ouvido, Leonardo, dez passos depois eu já sabia o nome dele, respondeu não.
- Na zona leste?
- Não
- Trabalha na Berrini?
- Também não
- Nossa, se eu tivesse que te entrevistar para uma matéria seria um problema. Você só responde não.
- Isso é uma entrevista?
- Não, é que eu sou jornalista. Foi só um comentário.
- E você?
- Eu o quê?
- O que você faz?
- Sou estudante
E começou a cantarolar a música que ouvia em seu ipode. Entendi que ele não queria conversar. Me esforcei para manter silêncio. Parei meu olhar no livro que carregava.
- Livro sobre guerra?
- Não exatamente
- Estratégia de guerra?
- Quer ver?
- Que interessante, ensina as estratégias de guerra para lidar com chatos.
- Pode ficar
- Mas você já leu?
- Não ainda
- Então não posso ficar
- Não, tudo bem, fica.
- Obrigada
Em casa...
- Ju, olha só que legal. Conheci um menino muito simpático. Ele gostou tanto de mim que me deu...
- Só um puquinho, estou no telefone com o Léo. Ele está me contando que conheceu uma gaúcha hoje. Diz ele que confirma a máxima sobre mulheres bonitas no sul, mas era tão chata que ele se obrigou a lhe dar o livro que estava lendo para ela parar de fazer perguntas.
Dois minutos depois...
- O que você queria me contar mesmo?
- Comprei iogurtes. Quer?

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Tão perto...


Mariana sempre chegou muito perto de conseguir as coisas.
Quase falou antes dos dois anos. Quase conseguiu ter amigas de sua idade na infância. Quase ganhou o campeonato de handebol da escola. Foi quase modelo da Elite. Quase magra. Quase...quase...quase!
Em algumas situações, desistiu antes. Alegando desculpas absurdas, não falou mais com o menino em quem deu o primeiro beijo. Também não compareceu à prova da Federal.
Com o passar do tempo, quase se acostumou.
Namorou quase três anos. Quase passou no teste de direção. Foi quase âncora do telejornal da faculdade. Tirou quase 10 no trabalho de conclusão. Quase escreveu para a editora x. Quase casou.
Um dia, cansada dessa vida, quase morreu de tanto chorar. Como não morreu, decidiu começar tudo de novo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Resposta ao amigo Paulo – fundador do Clube do Bem

O Paulo pediu uma crônica sobre mulheres que mentem. Como ele é leitor assíduo, sempre faz comentários muito pertinentes aqui no blog e, principalmente, porque está na lista de meus melhores amigos, ganhou.

Quando uma mulher mente

Mulher mente quando uma pergunta é absurda. Por exemplo:
- Foi bom para você?
Claro que a resposta nunca vai ser:
-Não, foi péssimo.
Em geral essas perguntas surgem na primeira vez que vamos para cama com o cidadão. Eu nunca disse que achei ruim, embora algumas vezes tenha achado. Mas até aí é uma mentira necessária. Vamos combinar que não tem nada que fazer esse tipo de pergunta.
Quando uma amiga pergunta, quase chorando, se engordou, também sou capaz de mentir.
Nunca fingi orgasmo, mas sei de gente que já fingiu. Não acho um erro grave. Pode demonstrar o carinho que temos pelo outro.
A questão toda não é se mulher mente mais ou menos do que o homem. O que está em jogo é o objetivo da mentira. Se o homem está mentindo, por vaidade, só para conseguir comer aquela gostosa que viu na cafeteria. Ou está mentindo por vergonha, por isso esconde que não tem carro, por exemplo.
Todos mentimos, isso é verdade (Nossa, que trocadilho barato). Mas até a mentira tem limites.
Contar histórias sem pé nem cabeça não né. No mundo adulto isso não funciona.
Mulher tem sexto sentido, mais cedo ou mais tarde vai saber.
Agora...
mentiras leves sussuradas ao ouvido... essas eu aprovo.
Mente pra mim?

terça-feira, 14 de julho de 2009

Homem que mente!


Homem que mente, mente tanto e tão bem que quando conta uma verdade é acusado de estar mentindo. Homem que mente não sabe mais o que é verdade em seu repertório. Ensaia na frente do espelho, pensa nas possibilidades de contra-argumentação. É mestre. Mente até para si mesmo. Você quer saber se o seu homem mente? Mas quer saber mesmo? Então lá vai:


Vocês se conheceram em uma Cafeteria. Ele contou sua vida em detalhes em dois minutos. Você pensa:

a) Ele é meio ansioso. Mas gostou de saber que ele fez uma cirurgia na medula há dois anos. Homens que contam detalhes da cirurgia querem compromisso;
b) Ele é sincero. Que ótimo, encontrei o amor da minha vida;
c) Ele só pode estar mentindo. Afinal, quem conta a vida em detalhes em dois minutos?

Ele te convidou para sair e disse que te levaria num lugar especial. Você pensa:

a) Hum, só pode ser um motel, mas tudo bem. Nós somos adultos e ele trabalha muito;
b) Hum, que máximo. Ele vai me levar para um jantar romântico;
c) Hum, só pode ser um motel. Afinal ele não parou de tentar tocar os meus seios no último encontro.

Ele passou o fim de semana com o celular desligado. Você pensa:

a) Deve estar resolvendo tudo com a namorada. Agora vai ser só meu;
b) Deve ter viajado para o interior para visitar o avô que está doente e o celular não pega lá;
c) Ele é casado e está me enganando.

Se você respondeu a ou c, está esperando que alguém lhe diga que está enganada. Se respondeu b, sinto dizer, mas quem está mentindo é você e para si mesma. Se leu esse teste até o fim, está pensando em perdoar as mentiras dele.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mulher zíper


Minha mãe colecionava botões. Grandes, redondos, quadrados, minúsculos...
Ela tinha um trabalho danado para pregá-los, passava as tardes a escolher o modelo certo.
Costumava perguntar se não era mais fácil trocar os botões, muitas vezes ímpares, por um zíper.
-O zíper não tem o charme do botão.
A resposta me intrigava...

Sempre me disseram que tenho uma beleza exótica. Gostava, isso me distinguia. Até o dia em que a frase mudou.
-Você tem uma beleza necessária
De pronto pensei em algo simples, que muitas vezes passa desapercebido. Mas, não.
Tudo que é necessário tem continuidade. Já o exótico, tempo determinado.
Exótico é aquele botão que guardamos porque não sabemos de onde caiu. O zíper é funcional, cumpre uma necessidade. Abre-se quando menos esperamos, tranca nos piores momentos, mas não desaparece sorrateiramente como os botões.
Sendo assim, sou uma mulher zíper.
Assumo minha beleza necessária.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O ócio criativo


Uso o título do livro de Domenico De Masi para falar de meu ócio (forçado) que se tornou criativo. Mais uma vítima da crise, ou de minhas escolhas, estou sem emprego.
Acontece que, enquanto espero, uma ansiedade insiste em chegar. Para não descontá-la na comida, porque depois terei de correr atrás do prejuízo, decidi descontar nas palavras. Putz, descobriram o motivo da criação desse blog. Brincadeira. Quer dizer, quase verdade.
A ideia do blog já existia, faltava era vontade, ou sobrava preguiça. O fato é que esse espaço nasceu a partir da minha participação na oficina literária de crônicas, do redemoinho de dúvidas em que me encontro e da minha falta do que fazer.
Agora, me falta é tempo. Outro dia, fiz um texto em homenagem a um amigo. A repercussão foi tão boa, que surgiu a encomenda de um trabalho. Pronto, a inércia deu lugar à criatividade. Daí surgiram mais convites, concursos, encontros com pessoas aqui e ali. Dinheiro, propriamente dito, ainda não. Mas tenho fé. Tão pouco perdi quilos, mas também não ganhei.
O que ganhei foram muitas horas de leitura. Sabe aquela frustração por não poder comprar um livro por ser muito caro? Também acabou. Agora tenho tempo para me sentar lá nas poltronas confortáveis da Cultura e ler o que quiser. Hoje foi assim. Voltava da terapia e decidi dar uma passadinha para saber das novidades. Escolhi “As cem melhores crônicas”. De lá, tirei a inspiração para o texto que vos escrevo.
Por falar em inspiração, de onde será que o Michael Jackson tirava tanta? Ele sempre contava histórias fascinantes em suas letras. E aquelas danças? Eu e a Jú adorávamos o "Triller". Quando uma de nós acordava meio chateadinha, já vinha a outra com o clip. E o dia começava bem.
E agora estou encontrando respostas para a pergunta que tem pairado no ar nos últimos tempos.
– Mas o que, afinal, os jornalistas estudam na faculdade?
Olha, só posso dizer que a faculdade, seja ela do que for, é uma fábrica de ideias. Nos tira do ócio e ainda nos dá amigos. Amigos que depois se tornam nossos leitores. E aí vai o meu muito obrigada pelas manifestações aqui no blog, via e-mail ou pelo orkut!
Agora quero pedir que aproveitem os minutos de ócio que os trazem aqui e mandem sugestões de assuntos. Pode ser?

domingo, 21 de junho de 2009

Cumplicidade de alcova

A passagem do Dia dos Namorados me fez ler inúmeras pesquisas feitas aqui e ali sobre o fato de existirem mais mulheres solteiras do que homens. Li até sobre o fato de que na verdade o número de moçoilos sem par é maior. O problema é que, ainda segundo as pesquisas, as mulheres são muito exigentes.
Pois eu aposto na cumplicidade de alcova. Digo que o que faz uma mulher gamar ou não num homem não é o carro ou a conta bancária dele. Afirmo com toda a minha fé que o que prende uma mulher é “cama”.
Sexo é importante, claro. Mas as preliminares...fundamentais. Aqueles homens que agem no ímpeto, sabe? Chegam agarrando sem perguntar e já vão tirando o brinquedinho para fora, perdem metade dos pontos.
Mulher gosta de ser seduzida. Quer sexo oral feito sem pressa. Na cama, quer ser puta e não princesinha. Mas também quer conversar antes de dormir. Tem que ter cafuné e café na cama.
Parece que ultimamente os homens não têm muita paciência. Nem prestam atenção se a mulher diz que não quer transar porque não se depilou. Aí vai um aviso importante: Não adianta forçar. Nenhuma fêmea vai para a cama, pela primeira vez, sem estar depilada. Se mesmo assim ela for, não será bom.
A Mariana passou por essa outro dia. Diz ela que “deu” só para se livrar do cara. E ele ainda comentou algo sobre tirar a puta da zona. Não!!!! Não queremos ser tiradas da zona. Não nessa hora.
Gostamos mesmo de homens que nos prendem ao seu lado sem conseguirmos explicar exatamente o porquê. Se casamos com eles? Isso já é papo para outra crônica!

PS: O Carpinejar leu esse texto antes de ele vir parar aqui, e o acusou de ultrapassado. Diz ele que homens sempre foram ansiosos. Confesso que enxergo ao contrário. Enxergo mulheres capazes de qualquer coisa para ter um bofe do lado.
Opiniões?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Perdi a vergonha


“Dentro de mim não é mais um bom lugar para se viver”. Esse é o título de um dos versos da poeta carioca Maria Rezende. Ele integra o livro Bendita Palavra. Achei próprio para falar da fase em que me encontro. Dentro de mim, atualmente, acontece uma faxina.
Minhas vozes internas estão de bunda para cima vasculhando o passado.
A todo o momento, jogam coisas lá de dentro, gritando:
-Isso não queremos mais!
- Mas...inicio eu numa tentativa de contra-argumentação
De nada adianta. Elas são teimosas.
- Agora nós damos as cartas por aqui, declaram com um risinho sarcástico.
Tem gente que não está gostando muito. Meu pai, por exemplo.
Bom, aí vão as minhas desculpas sinceras. Não há nada que eu possa fazer para impedi-las.
A primeira coisa que as danadas fizeram foi empurrar a vergonha para fora. Nunca mais tive notícias. Fora alguns sincericídios que cometi por aí, tenho passado bem sem ela.
É tão mais fácil agir sem pensar trocentas vezes se devo ou não tomar determinada atitude. Basta consultá-las que a resposta chega via expresso.
Outro dia, no sarau elétrico, pediram leitores voluntários. Não tive dúvida.
Com uma coragem que me orgulhou, declamei alguns poemas.
Depois, o tema era piada. De novo fiz a frente.
Confesso que não tive muito sucesso. Poucas pessoas riram, e as maças do meu rosto mais se pareciam com tomates. Quem se divertiu foram minhas vozes internas.
Sim, tem momentos em que quero matá-las. Mas esse sentimento só dura alguns segundos. Depois, consigo rir de mim mesma.
Ta aí, perdi a vergonha, mas encontrei o caminho para o bom-humor!

domingo, 14 de junho de 2009

O chato


Já tive namorado ciumento, malandro, pouco esclarecido, mas o pior de todos foi o chato. Esclareço que eu só tinha 16 anos quando comecei a namorar ele, talvez tenha sido essa a dificuldade em identificar a chatice logo de cara, creio eu.

O moço tinha 26 anos, estudava odonto na UFRGS, eu o achava lindo, e ele ainda ouvia meus assuntos sobre política, o que mais eu podia querer?
Chatos mesmo eram os meus colegas de turma, que corriam atrás de mim no recreio tentando me beijar.

A primeira vez que ele manifestou "o problema" foi durante um filme que assistíamos em minha casa. O mala apropriou-se do controle remoto e resolveu nos explicar, a minhas amigas e eu, cada cena do filme. Na primeira vez que ele fez isso achamos que era brincadeira.Já na terceira, as meninas perderam a paciência e foram para casa alegando estarem atrasadas para um compromisso inadiável.

Minha paixão era tanta que eu interpretei o gesto como um carinho. Mas o problema é que ele não explicava somente filmes. Não demorou muito e ele começou a comentar os tratamentos dentários que fazia. Mais, ele demonstrava (na minha boca) em qualquer lugar que nos encontrássemos> Leia-se qualquer lugar como: shopping, boate, casa da família, motel, etc...
Quando comecei a estudar jornalismo então, tudo era motivo para uma boa matéria. E lá vinha mais explicação.

O que a gente não faz por amor? Só não sei por amor a ele ou falta de amor a mim.

Por ele, comecei a ler Paulo Coelho, juro que nunca havia lido até então. Ele tinha uma coleção dos livros do autor, que não emprestava para ninguém, nem para mim. Eu só podia ler quando estivesse em seu apartamento.

Por favor, não me julguem. Dizem por aí que o amor é cego, não é?

Mas a cegueira acabou em um lindo dia de sol. Não, estava chovendo. Voltávamos de Gramado. Ele vinha exclamando mais chatices no meu ouvido. Meus pensamentos estavam longe dali.
- Que acha de chegarmos em casa e fazermos sexo enlouquecidamente?, perguntei eu ao ser advertida por minha falta de atenção.
- Você não estava prestando atenção no que eu dizia?
- Não, exclamei eu, numa sinceridade impetuosa.

Ele parou o carro com força e começou um sermão que durou uns cinco minutos, os mais longos de minha vida.
Naquele dia, fui advertida por propor sexo selvagem no meio de uma explicação sobre física quântica. Eca!
Não reclamei. A única coisa que conseguia fazer era procurar dentro de mim o motivo que me levara a suportá-lo nos últimos três anos.

Acontece que, quando nos conhecemos, eu tinha acabado de me filiar ao PT. Ele era o único que me ouvia falar sobre o orçamento participativo pacientemente e ainda fazia perguntas. Coisa que nenhum menino da minha idade topou.
Hum, parece que temos uma pista...
Sim, é por aí.
Dias depois de me separar do mala, fui até o partido.
Mais um relacionamento chegara ao fim!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Crônica da mulher solteira


Outro dia, fiz uma super descoberta numa dessas reuniões de amigas solteiras. Conversávamos, como sempre, sobre homens, profissão, homens, academia, divertimento, homens...quando percebi que a grande fantasia feminina hoje é nada menos do que um “marido”. Daqueles bem tradicionais que ajudam a cuidar das crianças, fazem churrasco aos domingos, e precisam ser lembrados de cortar as unhas dos pés. Sim, as unhas dos pés.
Segundo o poeta Carpinejar, o gesto é a maior prova da fidelidade masculina.
-Homem que não se importa em furar as meias, não anda passeando por motéis, defende ele.
Até um dado momento, a conversa seguia num tom quente e ousado. Todas prestávamos atenção na história da amiga que experimentara um negão. Contava ela que saiu para dançar samba. Lá, encontrou o José (vou chamá-lo assim). Algumas de nós nem piscavam, prestando atenção nos detalhes da noite de sexo selvagem da Mariana com o Deus de ébano, como ela prórpia o definiu.
Pelo meio da história, a Greici chegou.
-Desculpem o atraso, é que falta pouco mais de um mês para o meu casamento e estava finalizando algumas questões da festa.
Imediatamente após esse pronunciamento, todas esqueceram das peripécias da Mariana e voltaram seus olhares para a noivinha que acabara de chegar, começando os interrogatórios.
Queriam saber tudo sobre o noivo, sobre a cerimônia, como se conheceram...uma pergunta levava a outra e a conversa invadiu a madrugada.
- Nos conhecemos na internet, confidenciou ela.
- Ai, conta mais. Precisamos nos espelhar em cases de sucesso, dizia uma.
- Eu tenho medo de encontros marcados pel internet, comentava a outra.
Por falar em medo. Quais são os seus?
O Paulo veio com essa outro dia. Diz ele que tem medo de amar. Sua meta agora é dar a volta ao mundo pelo sexo. Quando conhece uma menina, a primeira pergunta não é o nome dela, e sim a nacionalidade.
Questiono: Vale dupla cidadania?
...E os negões que me desculpem, mas a maior fantasia feninina é o casamento.
Hum...e se for um marido negão?


segunda-feira, 8 de junho de 2009

Canecas e afins

Por mais que a gente se dê, tudo tem um limite. Demorei, mas descobri o meu.
Cresci praticamente como gêmea da minha irmã dois anos mais velha. Tudo era compartilhado em casa. Acontece que isso me foi imposto, não tinha ideia de como seria agir diferente, ter individualidade, roupas só minhas. Até cheguei a fingir segredos e esconder objetos preferidos para não ter que dividir. Mas isso me cansava muito.
Quando fui morar com a Juliana percebi o quanto a falta de privacidade me irritava.
Minha colega de apartamento adorava dividir praticamente tudo. Xampus, roupas, maquiagens, amigos, namorados não (porque eu não quis). No início, achei legal não ter que colocar meu nome nas uvas ou iogurtes preferidos. Compartilhávamos os gostos.
Tudo seguiu tranqüilamente até o dia em que ela achou que poderia usar minha caneca também. Tínhamos cerca de dez em casa, nove eram dela. Mas ela só gostava de uma, a minha. E a cena se repetia, um café atrás do outro.
Achava que seria egoísmo de minha parte reclamar com ela. Por isso, quando estávamos no supermercado comprando os condimentos para o café, já montava a estratégia na minha cabeça. Chegaria em casa e me encarregaria de preparar os líquidos. Mas sempre acontecia de um telefone tocar bem na hora, ou uma dor de barriga me empurrar para o banheiro. Quando voltava, lá estava ela aquecendo as mãos na minha caneca.
Até que, tomada de raiva por vê-la saborear um café com leite e conseguir enxergar até um risinho no canto de sua boca, falei:
- Chega!
Nesse dia, dormi tranqüila.
Estava estabelecido, meu limite era a caneca.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O tempo não pára!


Desastres de avião como o do AirBus 330, ocorrido na última segunda-feira, sempre nos fazem parar para pensar no tempo que desperdiçamos sendo quem não queremos ser. Certa vez, entrevistei a psicóloga Carolina Chem, filha e irmã da família de gaúchos que seguia em direção à França. Dizia ela que é comum as pessoas encararem a vida de forma diferente após tratar um câncer, ou passar por alguma perda familiar.

“É meio parecido com o processo que muitos de nós vivem a cada início de ano, quando estabelecemos novas metas e planos. As pessoas sentem na pele que não são eternas, que também a existência tem limites. Assim, repensam atos e, muitas vezes, sentem-se mais livres para ousar”, explicou. Imagino que ela esteja passando por esse dilema.

Seria tão mais fácil se nascêssemos com a informação exata do dia em que deixaremos esse planeta. Assim, os planos poderiam ser mais bem arquitetados. Ou morreríamos de ansiedade anos antes. Como saber?

Deixo aqui registrada a minha solidariedade aos familiares dos 228 passageiros que estavam a bordo do avião da Air France. Um abraço especial aos parentes e amigos do Dr. Roberto Chem, chefe do serviço de cirurgia plástica da Santa Casa de Porto Alegre, com quem tive o prazer de conviver durante os anos em que lá trabalhei. Pessoa de extrema competência e liderança, fundador do primeiro Banco de Pele da América Latina. Que descanse em paz!

sábado, 30 de maio de 2009

Diferencial competitivo


Vamos combinar que, antes mesmo de o mundo entrar em crise, as mulheres de Quase 30 já passavam pelo infortúnio. Morar em uma cidade com um maior número de mulheres, onde quase todas são magras, loiras e lindas, ter 29 anos e não estar namorando, então, é crise na certa. Eis onde me encontro.
Quando estava fora do Estado, sempre que comentava que sou gaúcha, ouvia a pergunta:
- Como pode ser gaúcha se não é loira?
Tá, aí vai uma informaçãozinha básica sobre o Rio Grande do Sul: Aqui tem mesmo uma grande quantidade de mulheres loiras, resultado da imigração Alemã. Mas também tem descendentes de portugueses e espanhóis. Vê, é possível que eu, morena clara, seja gaúcha.
Havia me esquecido que elas existem aos montes por aqui. É só sair na noite de Porto Alegre, mais precisamente pelos lados da “Calçada da fama” para se constatar o fato. Elas surgem uma atrás da outra, uma mais linda que a outra. Nossa! Chega a ser desleal a competição.
Decidi trabalhar com a teoria de que em terra de mulheres magras e loiras, morenas gostosas (como passei a me definir depois que ganhei uns quilinhos), são um diferencial competitivo. Como minha teoria ainda não se confirmou, pelo menos não comigo, vamos a um case de sucesso:
A irmã do meu amigo, uma morena jambo lindíssima, estava cansada de competir por aqui. Na casa dos 30 e poucos, decidiu arrumar suas coisas e partir, de mala e cuia, para Dublin/Irlanda. Lá, a concentração de loiras por metro quadrado é ainda maior. Mas foi exatamente aí que ela se deu bem.
Como todo e qualquer brasileiro que vai morar no exterior e não tem pai rico para bancar, ela foi à luta e descolou um emprego como diarista. Já no primeiro dia de trabalho, a supervaidosa irmã do meu amigo, não pôde exercer seu novo ofício. Acontece que o contratante, um irlandês nato, apaixonou-se por sua morenice e, simplesmente, não a deixou tocar em nenhum produto de limpeza.
Saíram para jantar, passearam pela cidade, e no mês seguinte ela conheceu sua família. Parece que se preparam para o casamento. Ele quer ter dois filhos e visitar o Brasil no carnaval.
Sabia que a minha teoria tinha fundamento!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Os homens e o futebol


Passei a duvidar de amores fulminantes, desses que nascem em uma semana. Vira e mexe, escuto um novo caso. A Juliana sempre dizia:
-Essas relações que começam de uma hora para outra sempre terminam mal. Cheguei a pensar que ela estava na verdade com uma pontinha de inveja por não ter sido com ela. Mas agora percebo que ela estava certa.
Eu mesma já fui vítima, ou algoz (nunca somos 100% vítimas), de um amor fulminante.
Eh mais fácil acreditar em palavras doces do que encarar a realidade. Mas quando as histórias começam a se repetir, nos forçamos a analisar a situação. Não é possível que todos estejam errados e eu certa, a menos que meu nome fosse Simão Bacamarte, personagem de Machado de Assis que interna toda a população de uma cidade por achar que estavam loucos. Como esse não é o caso, analisemos:
Conheci um homem lindo tomando café no posto. Ele falou algumas trivialidades. Entendi como um sinal para sentar ao seu lado na mesa. Conversamos por 10 minutos, nada além. Ele ficou com meu telefone, ligaria para saber como foi a peça de teatro que eu estava indo assistir. Não ligou.
Nos encontramos então, totalmente por acaso, no restaurante próximo a rua em que trabalhamos. Nesse dia, ele aproveitou para perguntar do espetáculo e me convidar para jantar. Ocorre que o dia do jantar coincidia com a data em que a seleção brasileira jogaria na cidade. Minha primeira reação foi pensar que ele cancelaria o encontro tão logo percebesse a “infeliz” coincidência. Não o fez. Depois pensei que ele me convidaria para assistir ao jogo em algum pub da capital. Também não.
Minha super sinceridade me obrigou a perguntar se ele tinha se dado conta do fato, já nos primeiros minutos em que embarquei no seu carro. Para minha surpresa, ele disse que eu era mais importante do que o jogo da seleção.
-Hum, que legal. Respondi, com um sorrisinho amarelo.
Era a terceira vez que ele me via e eu já despertara tamanho interesse? Não estava muito convencida da veracidade daquela informação. Após um longo jantar romântico, o moço, que não perguntou sobre o placar do jogo ao garçom nenhuma vez, me convidou para um fim de semana na serra.
- Ops...que rápido, pensei com meus botões. Imediatamente uma daquelas vozes internas, sabe aquelas?, me perguntou o que eu tinha a perder.
- Afinal, já está com quase 30 e ainda não casou. Lembre-se disso, gritava a tal lá de dentro.
- Hum, boa ideia, respondi ao candidato.
- Então venha trabalhar com suas coisas amanhã, te apanho no final do expediente, dormimos lá em casa e partimos no outro dia bem cedo. Assim mesmo, como alguém que combina uma reunião de negócios, ou uma praia com o amigo de infância.
Mas, como eu não conseguiria ir, propus algumas mudanças nos planos, que ele aceitou na hora. Mesmo assim minha memória chegou ao final do domingo com frases do tipo: Eu te amo muito; Tenho uma namorada linda (eu); Prepara-se porque comigo tu vais emagrecer, vamos fazer sexo três vezes ao dia.
Quando deitei a cabeça no travesseiro, os pensamentos não me deixavam. Mas será que é isso mesmo que eu quero? Ele nem me perguntou se eu quero ser namorada dele, ou se desejo emagrecer? Onde está escrito que eu quero fazer sexo três vezes ao dia? Em que momento eu disse algo que o levasse a supor tudo isso?
Mas agora eu tinha um namorado, não precisava mais ter de pensar em respostas criativas para perguntas do tipo: Por quê uma moça tão bonita e inteligente não tem namorado?
Na semana seguinte o discurso já tinha mudado completamente e mais um namoro relâmpago acabado.
Segue um aviso aos pretendentes de plantão: Liguei o sinal de alerta. Não acredito mais em paixões repentinas, sexo três vezes ao dia e, principalmente, em homens que não perguntam o placar do jogo ao garçom.

Todos no mesmo barco




Recentemente assisti a uma palestra sobre bullying. O vereador de Porto Alegre, Mauro Zacher, lançou um projeto de lei que dispões sobre a política municipal anti-bullying na rede de educação municipal. Lá, fiquei chocada com os números alarmantes que foram apresentados. Centenas de crianças no mundo todo se suicidaram ou tentaram suicídio após serem vítimas de bullying.
O termo em inglês, sem tradução literal para a língua portuguesa, refere-se a um tipo de violência muito comum nas interações entre pares, especialmente entre crianças e adolescentes nas escolas. São aqueles famosos apelidos: rolha de poço, quatro olho, dumbo, múmia paralítica...Ou, ainda, as agressões aos mais fracos para demonstração de poder e popularidade no meio escolar.
Desconhecia o termo até pouco tempo. Mas o que ele representa eu conheço desde os 8 anos de idade mais ou menos. Nessa época, comecei a engordar e junto com os quilos extras ganhei apelidos pejorativos de toda a ordem.
Decidi sair conversando com as pessoas para descobrir outras vítimas de bullying. Não muito longe de mim, identifiquei o meu pai. Ele e seu irmão eram chamados de Florzinhas na escola (o sobrenome deles é Flores). A minha irmã tinha muito peito, então recebeu o apelido de Parmalat. Minha amiga era a Robocope. E por aí foi.
Entre os famosos, descobri Elvis Presley e Gisele Bündchen. Elvis buscou na música um refúgio para o isolamento que sofreu durante os anos escolares. Gisele foi descoberta durante um curso para melhorar a postura. Ela conta que foi fazer as aulas porque era chamada de saracura e desengonçada por ser muito magra e alta.
No domingo, caminhava na redenção, quando ouvi uma voz a gritar meu nome. Ao olhar para trás percebi que era a menina que me perseguia no colégio. Por causa dela, fui chorando para casa muitas vezes. Senti vontade de caminhar até lá e lembrá-la do mal que causou. Não o fiz. Não sei se adiantaria.
Também notei que ela estava com a namorada, sim ela assumiu a homossexualidade. Será que aquela agressividade toda com as meninas (ela só perseguia meninas) era medo de perder o suposto controle a qualquer momento? Não sei. O que sei é que ela passou de criança agressiva a namorada dedicada, e eu de bebê monstro a rainha estudantil. Vê, estamos todos no mesmo barco.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sincericídio


Todos somos apaixonados por alguma coisa, certo? A maioria dos homens é apaixonada por carros. Já as mulheres, por sapatos. Alguns amam matemática, outros, geografia. No jornalismo, tem gente que adora fazer TV, os que não trocam rádio por nada no mundo, e os aficcionados por assessoria de imprensa. Eu sou dos textos. Lá no meu íntimo, sempre soube disso. Mas só declarei minha paixão publicamente há dois dias, durante uma entrevista coletiva de emprego em que a vaga era, pasmem, para assessor de imprensa.

Sei que chega uma hora na vida da pessoa que ela precisa se assumir, mas tinha de ser justo lá? Não dava para mentir só um pouquinho? Parece que desaprendi. Minhas amigas que o digam. Se eu beber, então, ferrou. Que fique claro que eu não bebi nada de álcool nesse dia. Não sei o que me deu, mas desconfio que tem a ver com a dezena de depoimentos que tive de ouvir antes de me pronunciar. Chamar-se Vanessa e não Adriana tem dessas coisas.

Duvido que todas amem ser assessoras, aposto que estavam mentindo. Pois foi o que disseram: - Eu já trabalhei em veículo, mas o que gosto mesmo de fazer é assessoria de imprensa, comentou a primeira.
- Desde o início da faculdade eu trabalhei com assessoria. Até tentei fazer reportagens para rádio, mas não tem jeito, a assessoria me persegue, disse a outra.
Acho que foi nesse momento que comecei a devanear. Me nego a acreditar que só eu ali não era apaixonada pela área. Quando retomei a atenção aos depoimentos, a frase era a seguinte: - Eu também sou viciada na cachaça.
- Ah, para!
Não que eu não goste da coisa, juro que não é isso. Fui uma assessora de imprensa bem feliz durante quase sete anos. Confesso que curtia mais produzir reportagens sobre saúde e bem-estar para a revista da Instituição, mas eu sempre fiz o meu trabalho direitinho.
Voltando a entrevista: Quando finalmente chegou minha vez de falar, as palavras voaram de minha boca: - O meu barato é texto. Falei bem assim: “barato”, no sentido conotativo da palavra. Claro que depois desse sincericídio, perdi a vaga. Quer saber? Nem queria.
Não conquistei o emprego na assessoria de imprensa do renomado clube da capital com trocentos anos de tradição, mas tenho quase 30 e descobri a minha cachaça, digo, o meu barato.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Fui com as amigas para a balada!



Os homens que nunca duvidem da cumplicidade feminina. Prova disso são mulheres dançando em grupo em uma balada. Já repararam? Elas dançam umas com as outras. Nem percebem os marmanjos que babam na volta. Divertem-se a valer, bebem whisky com Red Bull e não ligam pedindo para voltar.
Minha amiga veio de São Paulo para conversar com o namorado, mas, inexplicavelmente, ele não quis. Inexplicável porque ele era apaixonado. Todas podíamos notar. Eu bem que tentei defendê-lo, dizer que os homens precisam de mais tempo para pensar e tal. Mas marcar e não aparecer? Isso não tem defesa!
A partir daí começaram as surpresas da noite. Minhas surpresas. A primeira foi com a reação dela. Nenhuma lágrima escorreu de seu rosto. O meu estaria inchado até agora. E o comentário: -Esse não serve para mim.
- Mas ele não tem nenhuma chance mais? Nenhuminha? perguntei
- Não, eu fiz tudo o que estava ao meu alcance, respondeu enfática.
- Aonde nós vamos hoje, gurias? Perguntou ela, já recomposta.
Pensei que quisesse ir para casa ver um filme romântico, comer sorvete de chocolate e comentar os erros do relacionamento. Talvez essa fosse a minha opção.
Nada disso, ela queria ir para a balada. E lá fomos todas nós.
Éramos seis ao todo. De todos os tipos: morenas, loiras, com peitão, sem peitão, com luzes, com brilhos, muitos brilhos. Eh ótimo sair com amigas lindas, não tem uma viva alma que não olhe. Mas nesse dia éramos mais que isso. Éramos cúmplices. Cúmplices de um telefone que não tocou, de algo que não foi dito.
A segunda surpresa veio logo que chegamos na balada. Avistei o meu ex a poucos metros de mim. De nada adiantaram as tentativas de fuga durante a semana para não encontrá-lo em algum restaurante almoçando. Sim, nos conhecemos próximo ao trabalho. Pensei em xingar e esbravejar mais um pouco. Ele bem que merecia, mas eu não. Estava ali para me divertir. Alguém se encarregou de xingá-lo por mim. Parece que a acompanhante não gostou muito dos olhares que o moço lançou em nossa direção.
Minhas amigas e eu seguimos dançando descompromissadamente. Lá pelas tantas, veio a pergunta:
- Heteros, ou homos?
- Cúmplices!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Vanessas


Quando uma mulher muda de estado civil, país, peso, ou idade...geralmente muda algo na aparência também. As noivas, por exemplo, emagrecem e tomam sol antes de casar. Sei lá se eu sigo essa regra. Eu nunca casei! Mas já mudei de país. Quando fui morar em Toronto, levei alguns casacos que usava raramente no Brasil, queria mudar o visual. Continuei usando raramente no Canadá.
Para ingressar nos 29, decidi cortar as madeixas:
- Pode cortar sem pena, declarei!
- Oba, vamos começar diminuindo o comprimento, meu cabeleireiro-amigo-confidente comentou empolgado.
- Acha que vai ficar bom? - Relaxa, Vanessas. Vai ficar ótimo
- Vanessas?
- Acordei assim hoje, no plural.- Ah, tá. Entendi.
O que nunca entendi é por que o meu cabelo era cacheado e o da minha irmã liso? Quando eu era criança, costumava pedir cortes de cabelo iguais aos dela. Achava que assim o meu ficaria liso também. Nunca deu certo. Acho até que essa ideia de mudar os cabelos em ciclos é dela. E sim, agora estou me lembrando. Teve início quando ela terminou com um namorado chato e decidiu cortar o cabelo bem curtinho só porque ele não gostava. De lá para cá, ela sempre aparece com cabelos totalmente novos em seus aniversários, volta de férias e qualquer outra ocasião importante que ela tenha elegido de última hora.
Para ser sincera, faz tempo que o meu corte de cabelo não varia muito. Descobri alguns que me agradam, e passei a transitar entre eles. A mesma regra para os esmaltes, botecos, escritores, músicas e bebidas. Tenho as minhas preferências e dificilmente mudo. Demora até eu acrescentar algo novo na lista.
Ops...me perdi. Em que momento do passado eu deixei de ser um plural? Costumava ser igual a minha irmã. Ou, pelo menos, tentava.

Quase 30!


Costumo dividir as pessoas em dois grupos: As que gostam de fazer aniversário e as que não gostam. Tem gente que fica programando meses antes a roupa que vai usar, restaurante para jantar com o amado, quem convidar.Festas diferentes para convidados diferentes, ou um cruzeiro para solteiros? Um sem fim de questionamentos. Fico cansada só de pensar. Tem outros, como minha ex-sogra, que detestam. Descobri isso quando fui abraçá-la pelo aniversário e seus os braços nem se mexeram.

Eu sou daquelas que espera que façam tudo pra mim. Até o último minuto eu penso que estão armando uma grande surpresa, que eu só devo chegar e celebrar. Mas quase nunca é assim. Para ser sincera só foi assim uma vez, nos meus 15 anos. Isso depois de eu repetir diversas vezes que adoraria ganhar uma festa surpresa, que nem foi tão surpresa, porque eu percebi tudo antes.

Dessa vez, prestes a completar 29 anos, queria fazer algo diferente. Mas o que exatamente? Não sabia. Só não queria aquelas festinhas com pessoas que nem são tão íntimas e falam trivialidades só para não serem surpreendidas pelo silêncio constrangedor.

Um dia antes marquei um almoço com as amigas mais próximas. Depois que algumas casaram e tiveram filhos, não necessariamente nessa ordem, ficou difícil marcar coisas à noite. Mas o que eu queria fazer mesmo descobri dias antes, quando passava em frente a um outdoor. Um day spa. Como um dia inteiro de estética não cabia no meu orçamento, marquei uma tarde.

Saí do almoço esbaforida para não perder nenhum minutinho de minhas horas de relaxamento. Fui recebida com chás afrodisíacos e massagens com velas aromáticas. Nem deu tempo de explicar que não teria nenhum sortudo me esperando ao fim do dia para usufruir o bem que as especiarias me fariam. Decidi que em caso de não resistir mais, ligaria para o ex. Suportei bravamente a tentação e dediquei aquela tarde de cuidados afrodisíacos a mim mesma.

Quando cheguei em casa, churrasco, bolo e balões me esperavam. Gostei, montaram tudo para mim. Felizmente, a minha mãe entendeu que apesar de eu gostar das amigas dela, elas continuam sendo amigas “dela” e não convidou ninguém. Completei o meu dia de prazeres saboreando o churrasco que meu pai preparou pra mim.
Os figurantes não fizeram falta. Para ser sincera, nem percebi a ausência deles. Recebi ligações diretamente da Irlanda, de Pernambuco, de São Paulo, daqui mesmo, e todas muito preciosas. Atos de verdade, cheiros de verdade, gente de verdade. O aniversário em que não esperava nada foi tudo para mim. Estava esvaziada para finalmente receber.