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domingo, 14 de junho de 2009

O chato


Já tive namorado ciumento, malandro, pouco esclarecido, mas o pior de todos foi o chato. Esclareço que eu só tinha 16 anos quando comecei a namorar ele, talvez tenha sido essa a dificuldade em identificar a chatice logo de cara, creio eu.

O moço tinha 26 anos, estudava odonto na UFRGS, eu o achava lindo, e ele ainda ouvia meus assuntos sobre política, o que mais eu podia querer?
Chatos mesmo eram os meus colegas de turma, que corriam atrás de mim no recreio tentando me beijar.

A primeira vez que ele manifestou "o problema" foi durante um filme que assistíamos em minha casa. O mala apropriou-se do controle remoto e resolveu nos explicar, a minhas amigas e eu, cada cena do filme. Na primeira vez que ele fez isso achamos que era brincadeira.Já na terceira, as meninas perderam a paciência e foram para casa alegando estarem atrasadas para um compromisso inadiável.

Minha paixão era tanta que eu interpretei o gesto como um carinho. Mas o problema é que ele não explicava somente filmes. Não demorou muito e ele começou a comentar os tratamentos dentários que fazia. Mais, ele demonstrava (na minha boca) em qualquer lugar que nos encontrássemos> Leia-se qualquer lugar como: shopping, boate, casa da família, motel, etc...
Quando comecei a estudar jornalismo então, tudo era motivo para uma boa matéria. E lá vinha mais explicação.

O que a gente não faz por amor? Só não sei por amor a ele ou falta de amor a mim.

Por ele, comecei a ler Paulo Coelho, juro que nunca havia lido até então. Ele tinha uma coleção dos livros do autor, que não emprestava para ninguém, nem para mim. Eu só podia ler quando estivesse em seu apartamento.

Por favor, não me julguem. Dizem por aí que o amor é cego, não é?

Mas a cegueira acabou em um lindo dia de sol. Não, estava chovendo. Voltávamos de Gramado. Ele vinha exclamando mais chatices no meu ouvido. Meus pensamentos estavam longe dali.
- Que acha de chegarmos em casa e fazermos sexo enlouquecidamente?, perguntei eu ao ser advertida por minha falta de atenção.
- Você não estava prestando atenção no que eu dizia?
- Não, exclamei eu, numa sinceridade impetuosa.

Ele parou o carro com força e começou um sermão que durou uns cinco minutos, os mais longos de minha vida.
Naquele dia, fui advertida por propor sexo selvagem no meio de uma explicação sobre física quântica. Eca!
Não reclamei. A única coisa que conseguia fazer era procurar dentro de mim o motivo que me levara a suportá-lo nos últimos três anos.

Acontece que, quando nos conhecemos, eu tinha acabado de me filiar ao PT. Ele era o único que me ouvia falar sobre o orçamento participativo pacientemente e ainda fazia perguntas. Coisa que nenhum menino da minha idade topou.
Hum, parece que temos uma pista...
Sim, é por aí.
Dias depois de me separar do mala, fui até o partido.
Mais um relacionamento chegara ao fim!

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