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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Canecas e afins

Por mais que a gente se dê, tudo tem um limite. Demorei, mas descobri o meu.
Cresci praticamente como gêmea da minha irmã dois anos mais velha. Tudo era compartilhado em casa. Acontece que isso me foi imposto, não tinha ideia de como seria agir diferente, ter individualidade, roupas só minhas. Até cheguei a fingir segredos e esconder objetos preferidos para não ter que dividir. Mas isso me cansava muito.
Quando fui morar com a Juliana percebi o quanto a falta de privacidade me irritava.
Minha colega de apartamento adorava dividir praticamente tudo. Xampus, roupas, maquiagens, amigos, namorados não (porque eu não quis). No início, achei legal não ter que colocar meu nome nas uvas ou iogurtes preferidos. Compartilhávamos os gostos.
Tudo seguiu tranqüilamente até o dia em que ela achou que poderia usar minha caneca também. Tínhamos cerca de dez em casa, nove eram dela. Mas ela só gostava de uma, a minha. E a cena se repetia, um café atrás do outro.
Achava que seria egoísmo de minha parte reclamar com ela. Por isso, quando estávamos no supermercado comprando os condimentos para o café, já montava a estratégia na minha cabeça. Chegaria em casa e me encarregaria de preparar os líquidos. Mas sempre acontecia de um telefone tocar bem na hora, ou uma dor de barriga me empurrar para o banheiro. Quando voltava, lá estava ela aquecendo as mãos na minha caneca.
Até que, tomada de raiva por vê-la saborear um café com leite e conseguir enxergar até um risinho no canto de sua boca, falei:
- Chega!
Nesse dia, dormi tranqüila.
Estava estabelecido, meu limite era a caneca.

2 comentários:

  1. Carta quase oração para Frei Caneca:

    Caríssimo Sr. Caneca.

    Passo mais tempo acordada que dormindo. Adoro dormir, por que entro no meu lindo mundo de fantasias e quando acordo, sou coroada com uma xícara de café com leite colorida e com formas anatômicas que encaixam confortavelmente entre o dedão e o indicador, fazendo com que eu sinta aquela carninha entre estes dedos esticada em arco, o que pra mim configura-se o enlace perfeito entre mão e coisa, digo, utensílio para beber leite, vulgo, caneca.
    Que o senhor entenda minha afeição. Eu respeito tuas colegas do mundo povoado, as Srtas ‘Xícaras”Xaviers da vida. Elas todas vêm com uma espécie de proteção do bumbum-corpo, o espírito- pratinho! Sim, o espírito vem na base do corpo. Só que assim, ninguém enlaça a mão na bunda da Xícara. Acho ela meio chata, casta, cheia de não me toques. Vem sempre com aquele avulso-irritante-descartável pratinho que dá cobertura e segurança das mãos do homem, desta raça que bebe líquidos quentes a qual me insiro.
    Então, ó Sr Frei...gosto da tua independência, do teu jeito de servir aos teus. Esta coisa ambígua, andrógena tua me fascina. O Sr é muito mais robusto e esteticamente superior, por isso eu rezo todo dia pra ti, metendo a mão na tua bunda e encaixando no teu braço forte e avantajado. Com todo respeito, tuas formas que me aquecem as mãos e eu te bebo o líquido dos deuses, que sai das vacas. Múuuuuuuuuuu

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  2. Mto intrigante essa situação da caneca que tu descreve ai em cima. Dividindo apartamento percebi como pequenas coisas no cotidiano se tornam grandes motivos para uma boa discussão sobre limites e privacidade. Coisas assim do dia dia me instigam e me fazem realmente refletir. Não por elas e sim porque que elas se tornam tão importantes. Não to nem ai pra louças de três semanas e frutas podres em cima da geladeira, mas com tempo elas se tornam insuportáveis. É, conviver em bando não é fácil.
    Grande beijo de mais um leitor teu.

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